Ex-sócios da Pacífico Wealth e da Leste Private lideram negócio de R$ 15 bi
Por Adriana Cotias
— De São Paulo
O grupo Opportunity tem um novo filhote na indústria de investimentos, a Opportunity Auster, negócio que abrange um braço de gestão de patrimônio e outro de ativos alternativos. A iniciativa reúne, de um lado, Murilo Ramos Neto, que liderava o multi family office (MFO) da Pacífico - a parte que ficou fora do acordo que transferiu os fundos da rebatizada P8 Gestão para o BTG Pactual no ano passado -, e, de outro, Bernardo Dantas Rodenburg, ex-sócio da Leste Private Equity.
A operação combinada já começa grande, com cerca de R$ 15 bilhões pela integralização da carteira da Pacífico (40%), com a do próprio Opportunity (60%), incluindo nesta fatia os investimentos dos fundos de participações que ficaram com Rodenburg quando ele deixou a Leste, do ex-BTG Emmanuel Hermann. São nomes conhecidos na gestão de capital proprietário e que se cruzam em várias transações.
Ramos Neto é, por exemplo, presidente do conselho de administração independente da Qualicorp e Rodenburg é membro independente da empresa. O Opportunity, de Daniel Dantas, enfileira uma série de investimentos ligados à economia real.
“Eu trabalho com gestão de patrimônio há 20 anos, o último projeto foi na Pacífico, e a gente começou a discutir a ideia de juntar nossas operações porque há bastante sinergia com a classe de alternativos”, diz Ramos Neto. Como gestor, ele afirma que sempre foi cliente do Opportunity, cultivando um relacionamento de longa data com Dantas, a irmã dele, Verônica (mãe de Rodenburg), e Dório Ferman, o nome à frente do renomado fundo de ações Lógica.
Pelo reconhecimento da placa, ele diz que fez questão de manter o nome Opportunity, dono de 50%, na sociedade. Debaixo da holding estão as duas gestoras: a Opportunity Auster Wealth Management e a Auster Capital, de alternativos.
“Foi um bom casamento”, diz Rodenburg. “Para o Opportunity, o wealth não era o ‘core’, embora em termos financeiros seja importante. E para ser bem servido numa operação dessas, ter escala faz diferença. É essa a gênese do negócio.
A cisão da carteira criada no Leste foi feita no segundo semestre do ano passado e soma cerca de R$1,2 bilhão, com mais de 50 investimentos realizados. O portfólio inclui Santos Brasil, Petrorecôncavo, a Premissa, de ativos minerais, e a Agro SB.
“Queremos crescer no private equity no que já vínhamos fazendo, e um pouco mais em alternativos ilíquidos em geral, com originação proprietária”, diz Rodenburg, acrescentando que isso inclui ativos estressados ou em situações especiais.
Apesar de o segmento de private equity passar por uma fase ruim, o gestor diz que, paradoxalmente, este é um bom momento para buscar oportunidades. “A gente não ignora a dificuldade de investir no Brasil, mas isso faz pouca diferença. Fazemos fundos ‘deal a deal’, o que torna o mandato mais flexível para entrada e saída.”
Rodenburg diz não ter uma cabeça muito setorial, buscando negócios simples, que entende como bons em várias etapas do ciclo econômico, com boa governança para carregar “independentemente da janela de saída”, já que no Brasil é difícil prever quando estará de fato reaberta uma nova temporada de ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês). A originação pode ser local ou no exterior.
O viés internacional também combina com o de Ramos Neto, já que 75% dos ativos sob gestão estão alocados fora do Brasil, até pelo fato de o “cliente ‘ultra-high’ [ultra rico] ter seus negócios aqui, com bastante exposição via propriedades, faz sentido ter grande parte da poupança lá fora”.
O executivo não esconde a ambição de fazer da Oportunity Auster Wealth uma das maiores do segmento de gestão de fortunas independente no Brasil. Conta que na Pacífico nem comercial tinha e que agora ganha uma estrutura mais robusta para pensar na expansão, preservando a boa relação de longo prazo que construiu. Tem clientes na sua carteira há mais de dez anos.
“Quando o modelo é alinhado ao business de serviços contratados de forma independente, ele gera valor para as partes. Se é de longo prazo, não pode desviar desses pilares, não tem atalho nem caminho fácil.” Ele conta que não cobra performance. A fidelidade do cliente vem pelo retorno composto ao longo dos anos e pela criação de riqueza.